- O que é o novo Modo IA do Google Search e como ele funciona?
- Como o Modo IA impacta a busca orgânica e o SEO?
- Estrutura da SERP e posição dos resultados
- Impactos estratégicos do modo IA para o marketing digital B2B
- Modo IA e a transformação mais ampla da busca orgânica
- Recomendações práticas para empresas B2B se adaptarem ao novo cenário
O Google Search deve passar por uma mudança grande, com a introdução do “modo IA” (AI Mode) em seus resultados de busca. Esse novo modo, também chamado de AI Overviews Mode, traz respostas geradas por inteligência artificial diretamente na página de resultados, oferecendo resumos rápidos e contextuais acompanhados de links para o usuário se aprofundar.
Mais do que uma novidade pontual, essa mudança representa um marco na evolução da busca orgânica e levanta questões importantes para SEO e estratégias de marketing digital – especialmente no contexto B2B, onde a busca por informação detalhada faz parte da jornada do cliente.
Nos tópicos a seguir, vamos entender tecnicamente o que é esse modo IA do Google, como ele funciona, em que situações ele aparece e quais implicações traz para SEO, estrutura da SERP, CTR orgânico, indexação de conteúdo e destaque de informações.
Também discutiremos os impactos estratégicos para profissionais de marketing (sobretudo em empresas B2B) e como essa mudança sinaliza uma transformação mais ampla na forma como pensamos conteúdo e presença digital. Por fim, apresentamos recomendações práticas para que empresas B2B possam se adaptar a esse novo cenário.
O que é o novo Modo IA do Google Search e como ele funciona?
O Modo IA do Google Search consiste em uma experiência de busca aprimorada por inteligência artificial generativa. Em termos práticos, significa que para certas consultas o Google agora exibe no topo da página uma visão geral gerada por IA (AI Overview), que sumariza as principais informações sobre o tópico consultado, extraindo conteúdo de múltiplas fontes confiáveis e já fornecendo links para quem deseja “saber mais”.
Essa resposta em modo IA aparece acima dos resultados orgânicos tradicionais, de forma semelhante a um featured snippet turbinado, porém agregando informações de vários sites ao mesmo tempo. Esse recurso nasceu como parte da iniciativa Search Generative Experience (SGE), lançada em caráter experimental em 2023, e evoluiu para o que hoje chamamos de AI Overviews. Em maio de 2024, o Google anunciou oficialmente a introdução dessas visões gerais de IA nos resultados nos EUA.
Inicialmente, era necessário estar logado e inscrito no programa Search Labs para usufruir do recurso completo, mas isso mudou rapidamente. O Google expandiu o acesso às visões de IA para um público amplo: em poucos meses, a funcionalidade foi liberada para todos os usuários em diversos países (incluindo o Brasil) e idiomas.
Hoje, as AI Overviews estão disponíveis em mais de 100 países e em idiomas como inglês, português, espanhol, japonês, entre outros. Além disso, é importante destacar que desde agosto de 2024 o Google passou a mostrar essas respostas de IA mesmo para usuários deslogados (por exemplo, em navegação anônima) – ou seja, o modo IA tornou-se parte da busca padrão para muitos, não mais um recurso restrito a beta-testers.
Quando o modo IA aparece? Segundo a própria documentação do Google, as visões gerais por IA surgem apenas quando os sistemas identificam que uma resposta gerativa seria particularmente útil – tipicamente em consultas mais abertas ou complexas, em que o usuário busca entender rapidamente um tema a partir de várias fontes.
Por exemplo, perguntas do tipo “qual a diferença entre tecnologia X e Y” ou “como resolver determinado problema técnico” tendem a acionar o modo IA, pois envolvem síntese de informações de diferentes lugares. Já consultas muito específicas ou navegacionais (como nome de um site, endereço etc.) provavelmente continuarão apresentando apenas os resultados tradicionais.
Tecnicamente, como o modo IA funciona nos bastidores? O Google revelou que suas respostas geradas seguem um método de Retrieval-Augmented Generation (RAG) – ou seja, a IA não responde apenas com base no que “aprendeu” previamente, mas sim faz buscas em tempo real no índice do Google e retrieval de conteúdo fresco para embasar a resposta.
Ou seja, ao receber a consulta do usuário, o sistema de IA compreende a intenção, faz múltiplas buscas no índice (incluindo possivelmente subconsultas relacionadas e usando o que chamam de “query fan-out”, que são múltiplas pesquisas paralelas sobre subtemas da pergunta), e então o modelo de linguagem (atualmente o Google Gemini 2.0) sintetiza uma resposta unindo os pontos-chave de diversas páginas. Por fim, o Google anexa citações com links para as fontes originais diretamente no texto gerado– um processo que o Google chama de “grounding” da resposta na base factual.
Esse modus operandi visa garantir que o usuário possa tanto obter uma resposta imediata quanto ter referências para conferir detalhes ou verificação em sites externos. Um exemplo ilustrativo: se o usuário pesquisar “melhores práticas de segurança em nuvem para empresas”, o modo IA pode exibir um parágrafo resumindo dicas de segurança (compiladas a partir de vários artigos técnicos), seguido de links para esses artigos (por exemplo, um link da documentação do Google Cloud, outro de um blog de cibersegurança etc.).
Assim, em um relance o usuário obtém uma resposta consolidada e já tem por onde começar caso deseje aprofundar em alguma fonte específica. Vale notar que o Google vem incorporando melhorias constantes nesse sistema. Em novembro de 2024, por exemplo, foi lançada uma interface de desktop redesenhada onde os links das fontes aparecem em um painel lateral ao lado da resposta de IA, facilitando a visualização de múltiplas referências.
Além disso, passaram a existir links embutidos inline no próprio texto da resposta (ou seja, trechos específicos da resposta da IA podem ser clicáveis e levar direto ao conteúdo fonte). Também foi introduzido um botão para salvar a resposta de IA, permitindo ao usuário guardar aquela visão geral gerada para consulta posterior.
Todas essas mudanças alteram a experiência de SERP, tornando-a mais interativa e informativa. Outro ponto importante é que o Modo IA não substitui completamente a busca tradicional, pelo menos por enquanto. O Google implementou uma guia/filtro chamada “Web” que o usuário pode selecionar caso prefira ver apenas resultados orgânicos clássicos (sem a caixa de resposta por IA).
No entanto, o CEO do Google, Sundar Pichai, já indicou que a tendência é integrar cada vez mais os recursos do modo IA à experiência principal de busca – hoje há uma separação (o modo IA ainda é considerado experimental e acessado via Labs para certos recursos avançados), mas no futuro essas diferenças devem desaparecer. Em entrevista recente, Pichai explicou que o plano atual é manter o AI Mode como uma aba separada para funcionalidades de ponta, mas “ir migrando [essas funções] para a página principal” com o tempo.
Isso significa que recursos hoje exclusivos do modo experimental – como diálogos multi etapas com a IA – podem ser incorporados na busca padrão conforme se provem úteis. Em outras palavras, o Google Search caminha para fundir o melhor dos dois mundos: a indexação abrangente da web com a capacidade da IA de fornecer contexto, síntese e interação conversacional diretamente na interface de busca.
Por fim, cabe diferenciar dois termos que podem causar confusão: AI Overviews (Visão Geral por IA) versus AI Mode. As AI Overviews referem-se principalmente a essas respostas geradas automaticamente no topo dos resultados – uma funcionalidade já disponível amplamente.
Já o AI Mode frequentemente se refere a um modo de busca experimental lançado em Labs (em 2025) que expande as capacidades dessas visões gerais. No AI Mode completo, o usuário pode fazer perguntas ainda mais complexas, multimodais (por exemplo, enviar uma imagem ou falar ao invés de digitar), e emendar perguntas de acompanhamento numa espécie de diálogo com a busca. É como se fosse uma versão “turbinada” da experiência: em vez de uma resposta estática única, o usuário pode continuar explorando através de follow-up questions dentro da própria interface do Google.
Essa experiência é possível graças a um modelo Gemini especial, capaz de raciocínio avançado e busca multi etapas – por exemplo, dado um questionamento complexo com várias partes, o modelo traça um plano de pesquisa, faz diversas consultas individuais e compõe uma resposta final mais aprofundada.
Além disso, se o usuário quiser saber mais, pode emendar outra pergunta como “o que acontece com a frequência cardíaca durante o sono profundo?” e a IA continuará o contexto, entregando novos insights com links relevantes
Como o Modo IA impacta a busca orgânica e o SEO?
A chegada do modo IA traz implicações técnicas importantes para SEO e para a dinâmica da busca orgânica como um todo. Vamos explorar alguns dos principais pontos: CTR e comportamento do usuário, mudanças na estrutura da SERP, efeitos na indexação e seleção de conteúdo, e o conceito de destaque de conteúdo nos resultados.
Click-through rate (CTR) e visibilidade orgânica
Uma preocupação natural dos especialistas em SEO é: se o Google já fornece a resposta na própria página de busca, os usuários tendem a clicar menos nos resultados orgânicos? Estudos iniciais e opiniões variam. Do lado do Google, a empresa afirma que as visões gerais de IA estão gerando mais cliques para as fontes citadas do que estas teriam como resultados tradicionais isolados.
Em uma publicação oficial durante o lançamento, o Google destacou que os links incluídos nas respostas de IA recebiam mais cliques do que se a página fosse listada normalmente para aquela consulta. Além disso, diz o Google, as respostas por IA as pessoas estão explorando um conjunto mais diverso de sites para perguntas complexas, e que o nível de satisfação do usuário com os resultados aumentou.
Esses dados sugerem que, quando um site é referenciado dentro da resposta por IA, ele pode ganhar visibilidade destacada e até tráfego adicional, pois aparece em evidência no topo. No entanto, a comunidade de SEO tem observado outro lado da moeda.
Se por um lado as fontes “privilegiadas” dentro do resumo podem se beneficiar, por outro muitos usuários podem obter resposta suficiente do próprio resumo e não clicar em mais nada, principalmente em buscas informativas. Pesquisas independentes indicam que a tendência de buscas sem clique (zero-click searches) continua forte e pode ser exacerbada pelo uso de IA generativa.
Um estudo de 2024 feito pela SparkToro mostrou que quase 60% das buscas no Google terminam sem nenhum clique para sites externos. Ou seja, mais da metade dos usuários encontra resposta direta (seja via recursos como painéis informativos, trechos em destaque ou agora via IA) ou simplesmente não clica em nenhum resultado.
Com a presença de respostas completas via IA, é plausível que esse percentual aumente, especialmente para queries onde o resumo da IA atende plenamente à intenção do usuário. De fato, alguns sites e analistas projetaram quedas consideráveis no tráfego orgânico após o lançamento do AI Overviews: estimativas iniciais variaram de 20% até 60% de redução de visitas em certos casos.
Em resumo, o CTR orgânico tende a se redistribuir – páginas que consigam ser citadas na resposta de IA podem ganhar uma parcela maior dos cliques disponíveis, enquanto outros resultados (mesmo na primeira página) podem receber menos atenção do que antes.
Estrutura da SERP e posição dos resultados
O modo IA altera bastante o layout da página de resultados (SERP). A presença de um bloco de resposta expansivo no topo naturalmente empurra os resultados orgânicos tradicionais mais para baixo, exigindo que o usuário role a página para vê-los, especialmente em dispositivos móveis (onde a tela é limitada). Em desktops, a reformulação de outubro/2024 incluiu um painel lateral exibindo as fontes da resposta, o que ocupa um espaço que antes poderia mostrar, por exemplo, o Knowledge Panel ou resultados adicionais.
Além disso, elementos como People Also Ask (Perguntas Relacionadas) e até mesmo anúncios pagos podem ficar deslocados ou menos proeminentes dependendo de como a resposta de IA é apresentada. Para o usuário, a experiência se torna mais guiada – o Google praticamente lhe dá uma “página 0” com a informação condensada.
Isso pode reduzir a visibilidade de resultados que antes recebiam cliques por curiosidade ou tentativa-e-erro. Por exemplo, antes um usuário podia clicar em 3 ou 4 resultados diferentes para coletar informações; agora ele pode obter tudo que precisa no resumo e talvez clicar em apenas 1 link (ou nenhum). Do ponto de vista de SEO, isso significa que estar fora do resumo de IA pode virar sinônimo de invisibilidade para certos termos, mesmo que seu site esteja na primeira página.
Já não basta estar na posição 1 orgânica; você precisa ser a fonte que alimenta a resposta da IA. Por outro lado, se o usuário optar por clicar na aba “Web” (resultados tradicionais), o cenário é o mesmo de antes – contudo, é razoável supor que a maioria seguirá consumindo a resposta default com IA, exceto talvez usuários avançados que prefiram a experiência clássica.
Em suma, a estrutura da SERP híbrida (IA + resultados) aumenta a concorrência por atenção na parte de cima da página.
Indexação e frescor do conteúdo
Uma das vantagens do modo IA é fornecer informações atualizadas e contextuais. Para conseguir isso, o Google depende intensamente de seu índice web e da capacidade de encontrar conteúdo relevante e recente para compor as respostas.
Para os profissionais de SEO, isso reforça a importância de garantir que seu conteúdo esteja bem indexado e otimizado para ser entendido pela máquina. Como o modelo de IA realiza buscas em tempo real, conteúdo que não esteja acessível ao crawler do Google (por exemplo, páginas bloqueadas por robots.txt, ou conteúdo atrasado na indexação) simplesmente não será considerado na geração das respostas.
Além disso, o Google confirmou que as mesmas atualizações de algoritmo que impactam os rankings orgânicos (como os Core Updates) também afetam quais páginas são escolhidas para compor as respostas de IA. Em agosto de 2024, John Mueller, do Google, esclareceu que se o seu site foi beneficiado ou prejudicado por uma atualização de núcleo, isso indiretamente alterará a visibilidade dele nas visões de IA – afinal, o pipeline de geração da resposta começa buscando os melhores resultados orgânicos sobre o tópico.
Portanto, as práticas de SEO técnico e de conteúdo de qualidade continuam fundamentais: ter conteúdo autoritário, bem estruturado e relevante aumenta a chance de o Google selecioná-lo para “alimentar” a resposta da IA. Outro fator é a velocidade e frescor. Como o modo IA visa responder perguntas complexas que podem envolver notícias ou informações recentes, é provável que conteúdo atualizado tenha uma vantagem.
Se sua empresa publica, por exemplo, uma pesquisa original ou insights novos sobre um assunto, a IA do Google pode usar essas informações para enriquecer as respostas – desde que consiga encontrá-las. Vale mencionar também que o Google possui mecanismos de tradução interna no modelo Gemini, capazes de tornar conteúdo em inglês acessível em outros idiomas dentro do processo de raciocínio da IA.
Isso quer dizer que um usuário buscando em português pode muito bem receber na resposta de IA informações que originalmente estavam em páginas em inglês, traduzidas automaticamente pelo sistema. Do ponto de vista do SEO internacional, isso expande a competição: o seu conteúdo local agora concorre não só com outras páginas em português, mas potencialmente com qualquer conteúdo relevante em outra língua que o Google possa transcrever e usar. Para o usuário, isso é benéfico (mais conhecimento global disponível); para o produtor de conteúdo local, é um incentivo a produzir material de alta qualidade e, se possível, multilíngue para não ficar para trás.
Destaque e formatação de conteúdo
A forma como o conteúdo de um site é apresentado tornou-se ainda mais crítica. Nas AI Overviews, o Google tende a puxar trechos curtos e objetivos de diferentes sites que juntos respondam à pergunta. Isso significa que conteúdos concisos, diretos ao ponto e bem alinhados com a intenção de busca têm mais chance de serem destacados.
Na prática, páginas que já respondiam à pergunta do usuário logo no início do texto (por exemplo, com uma definição clara em um parágrafo introdutório, ou uma lista enumerada de dicas) costumam ser boas candidatas a aparecer nos resumos da IA. Um estudo do Exposure Ninja, por exemplo, identificou que para “rankear” dentro das visões de IA do Google, os fatores-chave incluíam: alinhar muito bem o conteúdo à consulta (cobrir exatamente a pergunta feita); manter a informação simples e de fácil leitura; ir direto ao ponto, oferecendo a resposta logo de cara; e, não surpreendentemente, já estar bem-posicionado nos resultados orgânicos regulares.
Ou seja, o modo IA não anula a importância de SEO tradicional – ele a pressupõe. Seu site precisa ser relevante o bastante para aparecer entre os principais resultados, e então oferecer a resposta de forma clara para que o modelo de IA “perceba” e use seu trecho.
É importante ressaltar também que não há opt-out específico para impedir que seu site seja utilizado nas respostas de IA. Diferentemente do que alguns podem pensar, não existe uma meta tag “noai” simples que exclua seu conteúdo das AI Overviews (o Google considera essa funcionalidade parte da própria busca, e não um uso separado de conteúdo para treinamento). As únicas maneiras de não ser incluído seriam bloquear a indexação inteira da página (via noindex ou robots.txt), ou usar diretrizes como nosnippet que limitam trechos exibidos.
Contudo, tais medidas são drásticas e causam impacto também na busca orgânica tradicional (seu site deixaria de aparecer em muitos contextos). Assim, para a maioria dos sites, a melhor abordagem não é tentar fugir do modo IA, mas sim adaptar-se a ele – garantindo que, se seu conteúdo for usado em uma resposta, ele esteja correto, bem apresentado e traga o usuário até você caso ele precise se aprofundar.
A grande mudança está em como esse conteúdo é consumido: cada vez mais via resumos rápidos e interativos na própria SERP. O desafio para os profissionais de SEO é, portanto, garantir presença nesses novos formatos (seja aparecendo nas respostas de IA, seja mantendo a atratividade nos resultados orgânicos tradicionais) e entender as novas métricas de sucesso – por exemplo, não apenas posição média, mas também percentual de visibilidade em respostas geradas.
Enquanto o Google ainda não fornece relatórios específicos no Search Console sobre quantas vezes seu site foi mostrado em uma AI Overview, já se discute na comunidade a necessidade de acompanhar indiretamente esse impacto (observando mudanças de CTR por consulta, etc.). Em última análise, o modo IA não “mata” o SEO, mas obriga o SEO a evoluir em sintonia com a forma que o conteúdo é entregue aos usuários.
Impactos estratégicos do modo IA para o marketing digital B2B
Para além dos aspectos técnicos de SEO, o advento do modo IA no Google Search traz consequências estratégicas importantes para profissionais de marketing, especialmente em mercados B2B. Empresas B2B normalmente dependem muito de marketing de conteúdo e educação do cliente ao longo da jornada de compra – o que significa que a forma como as informações são buscadas e consumidas impacta diretamente seus esforços de geração de demanda e nutrição de leads. Aqui estão alguns impactos estratégicos a considerar:
Mudança no comportamento de busca do público: O modo IA encoraja usuários a fazer perguntas mais complexas e detalhadas do que fariam na busca tradicional. Para o Google, a integração de IA está levando as pessoas a formularem perguntas mais longas e exploratórias, o que pode aumentar a curiosidade e a profundidade da pesquisa.
Para o marketing B2B, isso significa que potenciais clientes podem vir mais informados e com questões mais refinadas logo no primeiro contato com seu conteúdo. Por exemplo, ao invés de pesquisar genericamente “solução de segurança em nuvem”, um usuário pode perguntar algo complexo como “qual solução de segurança em nuvem oferece melhor integração com sistemas legados e compliance com LGPD?”.
O Google IA poderia entregar um panorama comparando várias opções. Quando esse lead chegar ao seu site (seja via clique na referência ou em uma busca subsequente), ele já terá consumido um resumo comparativo de alto nível. Estratégia: As empresas B2B precisam ajustar suas personas e jornadas considerando que o público pode pular etapas iniciais de conscientização e chegar já numa fase de consideração avançada graças aos resumos da IA.
O conteúdo deve, portanto, aprofundar ainda mais nos diferenciais, casos de uso e detalhes técnicos para agregar valor além do que a IA entregou.
Diminuição do top-of-funnel tradicional e maior valorização de marca: Com a IA respondendo diretamente a perguntas informativas, aquela fase inicial onde o usuário visitava blogs e materiais introdutórios pode sofrer redução de tráfego. Em outras palavras, conteúdos B2B de topo de funil (como “o que é [termo]”, “benefícios de X”) podem ter menos visitas, já que essas dúvidas genéricas são respondidas instantaneamente pelo Google.
Por outro lado, se a sua marca for mencionada ou referenciada nessas respostas, ela ganha exposição sem que o usuário necessariamente clique. Isso atribui um peso ainda maior ao brand awareness: quando a resposta de IA cita, por exemplo, “Fonte: Blog da Empresa Y”, mesmo sem clique o usuário toma conhecimento daquela marca como autoridade no assunto. Insight estratégico: Invista em construir autoridade em seu nicho a ponto de ser referenciado.
Isso envolve produzir estudos originais, guias definitivos e conteúdo de qualidade superior – algo que a IA identificará como digno de menção. Mesmo que nem todos cliquem, estar presente nas conversas (ainda que mediadas por IA) reforça sua reputação.
Concorrência ampliada e necessidade de diferenciação: O Google AI Mode rompe barreiras de idioma e formato, trazendo para a disputa conteúdos do mundo todo. Para empresas B2B, isso significa que na hora de disputar a atenção do seu prospect, você não compete apenas com outras empresas nacionais, mas possivelmente com blogs, whitepapers e pesquisas internacionais que o Google pode sintetizar e traduzir na resposta. O conhecimento está mais globalizado na SERP. Sendo assim, a estratégia de conteúdo B2B deve enfatizar aquilo que torna sua visão única – seja um conhecimento profundo do contexto local, dados proprietários de mercado, ou mesmo uma perspectiva inovadora que concorrentes de fora não tenham.
Conteúdos genéricos ou redundantes perdem espaço em um cenário onde a IA “pega o melhor de cada fonte”. Foque em criar materiais que respondam às perguntas que ninguém mais respondeu (ou responder de forma mais completa).
Além disso, considere publicar conteúdo bilíngue (português e inglês) quando possível, para capturar tráfego internacional e também para ser considerado pela IA como fonte independente do idioma da consulta.
Impacto na geração de leads e CTAs: Em marketing B2B, não basta atrair tráfego – é crucial converter visitas em leads, geralmente por meio de CTAs (calls to action) em conteúdos educativos (como baixar um e-book, agendar uma demo, etc.). Com menos visitas de topo de funil chegando ao site, pode haver menos oportunidades de apresentar CTAs.
Além disso, mesmo quando o usuário clica vindo da resposta por IA, ele já consumiu um resumo; talvez vá direto ao ponto específico que precisa no seu site e saia rápido. Isso torna o engajamento on-site mais desafiador. Os profissionais de marketing precisarão ser mais criativos para capturar a atenção e interesse do visitante proveniente da busca.
Estratégias possíveis: oferecer conteúdos interativos ou aprofundamentos exclusivos (por exemplo, uma calculadora, uma ferramenta gratuita, um checklist detalhado) que complementem o que a IA mostrou, dando um motivo para o usuário permanecer no seu site. Outra tática é antecipar as próximas perguntas – se a IA traz um usuário até você respondendo “o que é X”, seu conteúdo deve já trazer no fluxo informações do tipo “como implementar X” ou “comparativo de soluções X vs Y”, guiando o usuário a seguir a trilha dentro do seu domínio, em vez de voltar para o Google para a próxima pergunta. 5. Redefinição de métricas de sucesso:
Com essa mudança, métricas clássicas de SEO/Marketing podem precisar ser revistas. Por exemplo, o tráfego orgânico bruto talvez diminua em alguns segmentos, mas isso não significa necessariamente perda de eficácia – pode ser que as pessoas que realmente clicam agora sejam as mais qualificadas (efeito de “menos volume, porém mais quentinho”).
KPI’s como taxa de conversão por visita podem ganhar mais importância relativa. Também será útil monitorar engajamento de marca em outras frentes: se o usuário não clicou mas viu sua marca referenciada, ele pode depois buscar diretamente pelo nome da sua empresa (busca navegacional) ou te procurar no LinkedIn/Redes.
Portanto, vale ficar de olho em sinais indiretos, como aumento de buscas pela marca ou acesso digitando o site (tráfego direto), que podem ser impulsionados pelo modo IA de forma não óbvia.
Modo IA e a transformação mais ampla da busca orgânica
O lançamento do modo IA não é um fato isolado, mas sim parte de uma tendência maior de transformação da busca orgânica em direção a experiências mais inteligentes e mediadas por IA. Esse movimento sinaliza algumas mudanças de paradigma de longo prazo:
De motor de busca a motor de respostas: Por décadas, o Google se posicionou como um intermediário neutro que lista links para o usuário explorar. Com as AI Overviews, ele dá um passo mais próximo de um “motor de respostas”, agregando e fornecendo conhecimento diretamente. Isso coloca o Google em uma posição ainda mais central na experiência informativa – quase como um assistente digital que já entrega a solução pronta.
Para quem produz conteúdo, isso significa que o Google se tornou tanto parceiro quanto concorrente: ele usa seu conteúdo para responder ao usuário, o que é ótimo para disseminação de conhecimento, mas ao mesmo tempo pode reduzir sua oportunidade de interagir diretamente com aquele usuário. Essa tensão entre conveniência para o usuário e redistribuição de tráfego para os produtores é algo que deverá moldar as estratégias de SEO e conteúdo nos próximos anos.
Coexistência da web humana e da web “dos agentes”: Sundar Pichai mencionou a ideia de duas camadas da internet: uma voltada para humanos (sites e conteúdo feitos para consumo humano direto) e outra para agentes de IA consumirem e processarem.
Essa visão sugere que os websites terão que servir a dois “públicos”: seus visitantes humanos e, indiretamente, os modelos de IA que leem o site para repassá-lo aos humanos.
Isso pode levar a práticas novas de otimização – por exemplo, garantir que seu site tenha APIs ou dados estruturados que permitam às IA extrair informações de forma confiável, ao mesmo tempo em que apresenta uma experiência rica e envolvente para pessoas. Já vemos um início disso com as preview controls e meta tags específicas para controle de snippet, mas pode evoluir para formatos de conteúdo formatados pensando em facilidade de parsing por IA.
A forma e o propósito do conteúdo digital estão se ampliando: não é apenas “escrever para o usuário” ou “escrever para o algoritmo de ranqueamento”, mas também escrever de forma que um agente inteligente consiga entender e sintetizar corretamente.
Novas oportunidades e modelos de negócio: Uma transformação dessa magnitude na busca orgânica também abre brechas para inovação. Por exemplo, se a busca generativa reduz tráfego para sites de notícias ou comunidades, talvez surjam parcerias ou acordos de licenciamento de conteúdo – já se discute como provedores de informação poderão ser remunerados quando suas respostas são usadas diretamente (similar às negociações que aconteceram com o Google News e os publishers).
Além disso, essa evolução pressiona as empresas a diversificarem canais: SEO continua crucial, mas não dá para depender de um único formato de visibilidade. Ferramentas de busca especializadas, plataformas de AI chat (como ChatGPT com plugins, ou assistentes em dispositivos), e redes sociais continuam concorrendo pela atenção.
A estratégia digital se torna mais holística, englobando ASO (answer set optimization) – otimizar para ser a resposta – e não só SEO (search engine optimization). Busca orgânica como parte de um ecossistema de IA maior: O movimento do Google reflete uma corrida mais ampla no mercado – vimos a Microsoft integrar o ChatGPT/Bing Chat ao Bing, startups lançando mecanismos de busca IA-driven, e consumidores experimentando chatbots para obter informações.
A adoção do modo IA pelo Google, que é o líder de mercado, sinaliza que a busca orgânica tradicional não voltará ao “antigo normal”. A partir daqui, podemos esperar cada vez mais hibridização: buscas com elementos visuais (multimodal), contextualização personalizada (quem sabe usando histórico ou preferências do usuário para ajustar as respostas da IA) e uma integração maior com outras aplicações (por exemplo, a resposta de busca já te permite executar ações – imagine pesquisar “encontros de negócios perto de mim” e a IA já te mostrar eventos relevantes e te inscrever via um link direto).
Para os estrategistas de marketing, isso significa abraçar a ideia de “marketing orientado por IA” – entender como algoritmos de inteligência artificial selecionam, resumem e apresentam as informações, e como posicionar sua marca dentro desse fluxo inteligente.
Em essência, a busca orgânica está se reinventando. Aqueles dez links azuis que conhecíamos hoje dividem espaço com cartões de resposta, conversas dinâmicas e resultados cada vez mais ricos. A estratégia digital também precisa se reinventar, mas há um lado positivo: quem conseguir alinhar sua produção de conteúdo com essa nova realidade pode colher grandes benefícios.
Afinal, mesmo com tanta automação, as bases ainda são conteúdo humano de qualidade, informações confiáveis e utilidade para o usuário – só que agora entregues de maneiras novas. O próprio Google reforça que, apesar da IA, seu princípio central de levar o usuário a conteúdos de qualidade na web permanece. Então, vemos a transformação não como um fim da busca orgânica, mas como uma ampliação do que ela pode ser.
Recomendações práticas para empresas B2B se adaptarem ao novo cenário
Diante de tudo isso, o que as empresas B2B podem fazer, na prática, para adaptar sua presença digital e estratégia de conteúdo ao modo IA do Google Search? Seguem algumas recomendações:
Mapeie as consultas-chave do seu setor e observe a SERP: Identifique quais termos ou perguntas relevantes ao seu negócio já estão gerando respostas de IA na busca. Faça buscas simuladas (tanto em português quanto em inglês, usando VPN se necessário) e analise como o Google está apresentando essas informações. Veja quais fontes aparecem citadas e quais pontos o resumo aborda. Isso vai te dar pistas sobre com quem você está competindo pelos holofotes da IA e quais lacunas de conteúdo talvez existam (por exemplo, se nenhuma resposta menciona um aspecto importante que você domina, aí pode estar uma oportunidade de conteúdo).
Otimize seu conteúdo para perguntas e respostas objetivas: Revise o conteúdo existente (posts de blog, FAQs, whitepapers) e veja se eles respondem de forma clara e direta às principais questões dos clientes.
Considere adicionar seções de resumo ou takeaways no início dos artigos, em formato de parágrafo conciso ou lista, destacando os pontos-chave. Isso não apenas beneficia o leitor humano apressado, mas também facilita o trabalho da IA em identificar os trechos relevantes do seu texto. Use subtítulos que correspondam a perguntas frequentes (por exemplo: “O que é X?”, “Como fazer Y?”, “Qual a diferença entre A e B?”) – isso ajuda tanto na scannability humana quanto na indexação semântica pelo Google.
Invista em conteúdo aprofundado e original (E-E-A-T): Em um cenário onde a IA reúne “as principais falas” de várias fontes, ter conteúdo de excelência faz toda a diferença. Siga os princípios de E-E-A-T (Experience, Expertise, Authoritativeness, Trustworthiness) do Google, demonstrando experiência e autoridade no assunto.
Produza pesquisas originais, estudos de caso, análises técnicas detalhadas – esse tipo de material tem maior chance de ser citado pela IA porque agrega valor único.
Lembre-se: a IA procura confirmação de vários sites; se o seu conteúdo for referência para um determinado dado ou conceito (por ter um estudo exclusivo, por exemplo), maior a chance de aparecer em múltiplas respostas. Além disso, o conteúdo original robusto te protege parcialmente do comoditização: mesmo que a IA resuma, muitos leitores B2B sérios vão querer ver a fundo os dados ou metodologia, e acabarão clicando no seu material completo.
Estruture dados e use marcação schema onde fizer sentido: Facilite para o Google “entender” e usar seu conteúdo corretamente. Se você tem insights quantitativos, rankings, receitas etc., usar dados estruturados (Schema.org) ou mesmo listas HTML bem formadas pode ajudar esses fatos a serem extraídos de forma correta. Por exemplo, um artigo com “10 estatísticas sobre indústria X em 2024” poderia usar lista numerada; um site de software B2B pode marcar depoimentos de clientes com schema de reviews.
Embora não haja garantia de que isso influa diretamente nas AI Overviews, qualquer vantagem de clareza semântica pode ajudar. O Google continua valorizando snippet útil – e um conteúdo bem estruturado tende a gerar snippets melhores, que alimentam a IA.
Monitore métricas e feedback de forma integrada: Acompanhe de perto as mudanças nas suas métricas de SEO e comportamento do usuário. Se possível, segmente análises para ver o desempenho de páginas que respondem perguntas de topo de funil. Por exemplo, se notar que determinada página perdeu impressões/clicks após maio/2024, pode ser porque agora a resposta está sendo dada pela IA.
Em paralelo, fique atento ao Google Search Console e atualizações: o Google tem ajustado suas ferramentas e talvez futuramente forneça dados específicos sobre impressões em resultados de IA. Enquanto isso não acontece, use métodos indiretos: monitore a taxa de rolagem/scroll nos seus conteúdos (para ver se quem entra já pula partes, possivelmente vindo com informação prévia), analise tempo na página comparado com períodos anteriores, etc.
No front de feedback, ouça o que os leads e clientes comentam – se começam a mencionar que “viram no Google que…”, isso indica que eles podem ter passado por um resumo de IA antes de falar com você.
Reforce presença em outras plataformas e formatos: Não dependa unicamente da busca do Google como fonte de tráfego. Com a volatilidade trazida pelo modo IA, é prudente diversificar. Fortaleça canais como LinkedIn (muito relevante em B2B), invista em email marketing e comunidades online próprias, produza webinars/podcasts.
A ideia é que, se o Google mediar mais o contato inicial, você compense criando pontos de contato diretos com seu público. Além disso, quanto mais reconhecida for sua marca em comunidades e redes sociais, maior a probabilidade de usuários buscarem diretamente por ela (navegacional) ou confiarem e clicarem quando a virem citada em uma resposta de IA.
A incorporação do modo IA ao Google Search marca um divisor de águas na busca orgânica. É um desafio, sem dúvida, para quem se acostumou com as regras do jogo de SEO tradicional – mas também é uma oportunidade de diferenciar-se. Empresas B2B que agirem agora para alinhar seus conteúdos e estratégias a essa nova realidade poderão se posicionar como líderes num terreno de busca renovado. No fim das contas, a missão continua a mesma: entregar valor e conhecimento ao público certo. A forma de entregar é que mudou – e continuará mudando. Como vimos, o Google pretende tornar a experiência de busca cada vez mais integrada com IA, mas ao mesmo tempo garante manter o acesso ao conteúdo de terceiros e apoiar um ecossistema web saudável.
Para os profissionais de marketing e SEO, fica a mensagem: evolua junto com a busca. Aqueles que conseguirem equilibrar criatividade humana, conteúdo de qualidade e entendimento do funcionamento das IAs do Google irão prosperar mesmo nesse cenário em transformação. Afinal, se a busca agora conta com inteligência artificial, que nossas estratégias de marketing digital sejam igualmente inteligentes e adaptativas.